Ao
completar 18 anos de idade todo rapaz brasileiro deve se alistar nas forças armadas, comigo não foi diferente. Após o alistamento vem uma
fase de exames médicos e psicotécnicos e enquanto esperava a minha
vez de ser examinado um Capitão do exército ligou uma televisão e
nela passava um vídeo do treinamento de guerra pelo qual TODO
soldado deve passar. Naquele dia eu temi a guerra, temi pelas
relações diplomáticas, pelas decisões da ONU porque eu não tinha
certeza se seria capaz de sobreviver nem ao treino, muito menos à
guerra.
Fico imaginando que o pior para um soldado é saber que o
sofrimento do treino é muitíssimo inferior ao sofrimento da guerra.
Tal qual um militar que sofre o treinamento antes da guerra o povo de
Judá era assolado para revelar a assolação eterna. Deus enviou
gafanhotos, seca e fogo para que o povo recordasse que na consumação
de todas as coisas, o juízo aguarda os que não se arrependem de
seus pecados.
1 Palavra do SENHOR que foi dirigida a Joel, filho de Petuel.
O
texto começa mostrando o motivo pelo qual a mensagem que se segue
deve ser considerada e obedecida: É Palavra do SENHOR. E também
conta quem seria o portador: Joel filho de Petuel. A Bíblia menciona
outros 11 homens com o nome de Joel, mas o profeta é o único Joel
cujo pai é Petuel. Não temos muitas outras informações quanto a
data, localidade ou biografia de Joel, mas pelo conteúdo do livro,
muitos estudiosos acreditam que ele tenha sido escrito por volta do
ano 460 a.C. após o exílio de Judá. Também acredita-se com base
nos detalhes que Joel dá acerca da atividade sacerdotal que ele
tivesse alguma ligação com a linhagem sacerdotal de Jerusalém
lugar onde provavelmente o livro foi escrito.
Não
há nenhum outro registro da infestação de gafanhotos mencionada
por Joel, mas também não há indícios de que se tratava apenas de
uma visão, portanto, defendemos que a invasão de gafanhotos
realmente aconteceu.
2 Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais? 3 Narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração.
Infestação
de gafanhotos não era nada extraordinário, mas o que Joel diz nos
versículos 2 e 3 mostram a singularidade da situação. Nem os
velhos nem qualquer outro habitante da terra tinha testemunhado
tamanha destruição feita por gafanhotos e por isso, esse fato
deveria ser contado às gerações futuras, porque o que estava
acontecendo era consequência do pecado do povo de Deus.
4 O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor.
O
versículo mais curioso e discutido desse capítulo é o versículo 4
que cita o gafanhoto cortador, o migrador, o devorador e o
destruidor. Desses quatro apenas o migrador representa uma espécie
de gafanhoto, os outros atributos (cortador, devorador e destruidor)
estão ligados ao que os gafanhotos fizeram nas plantações. A
maioria dos teólogos e exegetas que escreveram sobre este texto
acreditam que o fato de mencionar “gafanhoto” tantas vezes seja
indicação de sucessivas nuvens de gafanhotos que assolaram o povo.
E
pra fechar a descrição da situação, o profeta Joel usa 4 palavras
diferentes para designar gafanhoto, também para citar as fases da
vida do gafanhoto. Depois da destruição o gafanhoto se reproduz
colocando os ovos na terra e 10 dias depois saem de lá larvas que se
espalham no que sobrou de plantação e continuam a destruição,
alguns dias depois o gafanhoto precisa comer ainda mais poque está
no estado de ninfa, quando as asas começam a se desenvolver, então
o que tiver sido deixado pelos gafanhotos adultos da terra, era
devorado por nuvens de gafanhotos migradores que vinham do deserto
procurando plantações, o que fosse deixado por esses seria devorado
pelas larvas da próxima geração de gafanhotos e o que as larvas
não destruíssem seria dizimado pelas ninfas e todo o ciclo se
repetiria.
5 Ébrios, despertai-vos e chorai; uivai, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto, porque está ele tirado da vossa boca.
Então,
diante dessa situação, imagine um soldado prepotente e imprudentemente arrogante está tão despreocupado com o combate que vai para o
campo de batalha som colete, sem arma, sem capacete pensando que vai
sobreviver facilmente porque ele “foi treinado”. Esse tipo de
imprudência é retratado no versículo 5, pois enquanto tudo estava
sendo destruído pelos gafanhotos alguns bebiam e se embriagavam. O
profeta manda os bêbados acordarem porque até mesmo o seu vício
lhes seria tirado.
6 Porque veio um povo contra a minha terra, poderoso e inumerável; os seus dentes são dentes de leão, e ele tem os queixais de uma leoa. 7 Fez de minha vide uma assolação, destroçou a minha figueira, tirou-lhe a casca, que lançou por terra; os seus sarmentos se fizeram brancos.
E
numa analogia muito fácil de ser compreendida por um povo que foi
exilado por tantos anos, Joel compara no versículo 6 os gafanhotos a
um exército inimigo que tinha dentes de leão e mandíbula de leoa.
E a destruição da vide tratada no versículo 7 torna-se
particularmente simbólica já que o vinho estava presente em todas
as comemorações. Ele era o símbolo cultural da alegria, mas as
vinhas estavam secas até os sarmentos (ramos).
8 Lamenta com a virgem que, pelo marido da sua mocidade, está cingida de pano de saco.
No
versículo 8 uma segunda analogia é exposta para mostrar quão
radical deve ser a tristeza por sofrer as consequências terrenas do
pecado. Joel compara com o choro de uma virgem de luto pelo marido.
Por questões obvias, a única possibilidade de uma virgem chorar por
seu marido é se ele morreu no dia do casamento, antes de consumá-lo.
9 Cortada está da Casa do SENHOR a oferta de manjares e a libação; os sacerdotes, ministros do SENHOR, estão enlutados. 10 O campo está assolado, e a terra, de luto, porque o cereal está destruído, a vide se secou, as olivas se murcharam. 11 Envergonhai-vos, lavradores, uivai, vinhateiros, sobre o trigo e sobre a cevada, porque pereceu a messe do campo. 12 A vide se secou, a figueira se murchou, a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e já não há alegria entre os filhos dos homens. 13 Cingi-vos de pano de saco e lamentai, sacerdotes; uivai, ministros do altar; vinde, ministros de meu Deus; passai a noite vestidos de panos de saco; porque da casa de vosso Deus foi cortada a oferta de manjares e a libação. 14 Promulgai um santo jejum, convocai uma assembleia solene, congregai os anciãos, todos os moradores desta terra, para a Casa do SENHOR, vosso Deus, e clamai ao SENHOR.
Entre
os versículos 9 e 14 o profeta mostra que o juízo se manifesta na
ausência da providência divina. As ofertas de manjares e de libação
eram ofertas de alimentos e vinho que deveriam ser apresentadas duas
vezes ao dia, como preceitua a lei em Êxodo 29.38-42. Essas ofertas
eram representação da alegria do povo pela providência de Deus que
os preservou mais um dia. Mais a situação de miséria é tão
grande e assustadora que não sobrou nada para ofertar. Deus deixou
de prover o que era essencial para a sobrevivência e alegria do
povo: o cereal, a vide, as olivas (que são azeitonas), trigo,
cevada, a figueira, a romeira, a palmeira e a macieira. Todas as
árvores do campo se secaram e já não há alegria entre os filhos
dos homens.
Pela
falta de providência de Deus para sustento e felicidade do seu povo,
o profeta manda que os lavradores se envergonhem, os vinhateiros e os
ministros do altar uivem, os sacerdotes e os ministros de Deus (os
levitas) se vistam de panos de saco e lamentem. A
adoração e a santidade aplacaria a ira de Deus por isso o povo
deveria jejuar, reunir-se na casa do SENHOR para clamar ao SENHOR.
15 Ah! Que dia! Porque o Dia do SENHOR está perto e vem como assolação do Todo-Poderoso. 16 Acaso, não está destruído o mantimento diante dos vossos olhos? E, da casa do nosso Deus, a alegria e o regozijo? 17 A semente mirrou debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados, os armazéns, derribados, porque se perdeu o cereal. 18 Como geme o gado! As manadas de bois estão sobremodo inquietas, porque não têm pasto; também os rebanhos de ovelhas estão perecendo.
No
versículo 15 o profeta parece mudar completamente de assunto, ele
vinha tratando da desgraça, no sentido mais nítido da palavra, a
ausência da graça, e de repente começa a falar sobre o dia do
Senhor, o dia em que Deus julgará a humanidade destinando os eleitos
para a salvação e descanso e os réprobos para o inferno. A relação
desse versículo com o restante do texto é que o grande e terrível
dia do Senhor será precedido de tribulação e assolação.
Mateus
24.3 registra os discípulos pedindo a Jesus que lhes contasse um
sinal da volta de Cristo e a consumação dos séculos e Jesus passa
a elencar sinais: guerras e rumores de guerras, fome e terremotos e
ele chama isso de princípio das dores. Jesus continua: sereis
atribulados, vos matarão, sereis odiados das nações, sereis
traídos, e muitos tentarão enganá-los, mas o que perseverar será
salvo. Não será salvo por sua perseverança, mas porque ela indica
a ação de Deus em preservar a fé e aprimorar a santidade dos seus
eleitos. Então,
devemos concluir que a crise descrita por Joel e todo o sofrimento
descrito por Jesus são anúncios do grande julgamento que Deus
iniciará em breve.
19 A ti, ó SENHOR, clamo, porque o fogo consumiu os pastos do deserto, e a chama abrasou todas as árvores do campo. 20 Também todos os animais do campo bramam suspirantes por ti; porque os rios se secaram, e o fogo devorou os pastos do deserto.
Diante
de uma calamidade que por pior que seja, não se compara com o que
está por vir, o profeta clama porque sabe que o Deus que estava
disciplinando o seu povo poderia aliviar o sofrimento. Provérbios
3.12 diz que o Senhor repreende a quem ama, portanto, devemos
compreender que os sofrimentos que nos aproximam de Deus por meio da
oração são o aviso de que o fim está mais próximo do que nunca e
nós cristãos devemos estar vigilantes, assim como Jesus recomenda
em Mateus 24.32-44, Jesus fala que o povo da época de Noé foi pego
de surpresa pelo dilúvio e que isso acontecerá com o volta de
Cristo, mas só seus discípulos deveriam estar atentos como um pai
de família que sabe a hora em que virá o ladrão.
Então...
Os
sofrimentos da vida terrena não se comparam aos que estão
reservados a todos os que passarão a eternidade no inferno. E graças
ao sacrifício de Cristo Jesus não estaremos sob juízo eternamente,
então choremos pelos nossos pecados, anunciemos o triste fim deste
mundo, proclamemos o arrependimento para a vida para contemplarmos a
misericórdia e justiça de Deus.
Eu
espero nunca ser um soldado, mas quanto a luta pela vida espiritual
posso sossegar porque a vitória está garantida pela morte e
ressurreição de Jesus. O fim se aproxima, e nesse tempo de espera
devemos chorar pelo pecado, e pregar o arrependimento. E que nossa
alegria não esteja em nada desse mundo, que esteja no Senhor para
que a tribulação do fim dos tempos nos tragam a esperançosa
memória de que em breve seremos todos um, como Deus é em nós.
(Texto adaptado do sermão pregado na Igreja Presbiteriana de Interlagos no dia 02 de julho de 2017)